População deve evitar clima de ‘epidemia acabou’ e se preparar para novos vírus; afirmam especialistas

Técnicos da Fiocruz defendem continuidade de ações e pesquisas para enfrentar novas pandemias: "Nada ocorreu sem investimentos anteriores, inclusive a vacina", diz presidente da Fiocruz, Nísia Trindade
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A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, afirmou nessa quarta-feira (20) que houve quatro pontos fundamentais de aprendizado com a pandemia de covid-19: a importância do investimento permanente em ciência, a necessidade de descentralização dos centros de produção, o fortalecimento dos sistemas de saúde e proteção social e a relevância da agenda e dos aprendizados no âmbito do multilateralismo.

“Nada ocorreu sem investimentos anteriores, inclusive a vacina. A resposta [à pandemia] pode ser rápida, mas não veio do nada”, disse Trindade, ao participar do webinar “A pandemia covid-19 em transição”, promovido pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz.

Daniel Villela, coordenador do Programa de Computação Científica da Fiocruz, acrescentou que, agora, o país deve se preparar para o possível aparecimento de novas variantes de preocupação. “Ainda há alta circulação do vírus no mundo e a cobertura vacinal é muito heterogênea entre os países. É questão de tempo até que variante de alta transmissibilidade apareça. E temos que nos preparar, principalmente nos mecanismos de entrada no país”, disse Villela.

Ele citou também a necessidade de se investir no desenvolvimento de vacinas, na vigilância genômica e no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Villela, deve-se evitar o clima de “epidemia acabou”, impedindo que a covid-19 caia no status de doença negligenciada. Além disso, diz, os quadros de pós-covid e covid longa devem ser acompanhados.


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Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo, lembra que “infelizmente” não houve políticas públicas para o direcionamento durante a pandemia. “E é importante falarmos isso porque teremos outras pandemias. Não temos até hoje o protocolo de testagem, o protocolo de atendimento. É importante reconhecermos isso e na próxima vez estarmos mais preparados”, afirmou.

Ela lembrou que o país só teve acesso a vacinas porque outros países estavam mais preparados para criá-las. “Precisamos aprender com isso e termos investimento contínuo”, frisou.

Maciel comentou ainda pontos que deveriam estar solucionados antes da revogação do estado de emergência sanitária, que aconteceu esta semana. De acordo com ela, país deveria contar, entre outros pontos, com medicamentos efetivos disponíveis no SUS, protocolos de atendimento prontos, campanhas efetivas de vacinação, protocolos para tratamento das sequelas da covid, além de ter garantia de que a estrutura que foi criada seja mantida, entre outros pontos.

“Não existe ação sem financiamento. Os recursos [extraordinários] têm que ser incorporados [como ordinários]. É preciso saber de onde vem e para onde vai [o dinheiro]”, disse Maciel, defendendo a criação de um Instituto Nacional de Monitoramento de Emergência em Saúde Pública.


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por Valor Globo

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