O assistente administrativo Emerson Magalhães, de 37 anos, denunciou uma abordagem em que foi acusado de roubo em uma loja de um shopping de Salvador. Ele foi interpelado por dois homens que se apresentaram como policiais e pediram para revistá-lo já do lado de fora do centro de compras, localizado na região do Cabula.
A situação aconteceu no último sábado (29). Emerson Magalhães registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil, que investiga o caso. Além disso, entrou em contato com a Defensoria Pública da Bahia e com um processo no Ministério Público da Bahia (MP-BA). Ainda não há confirmação se o homens eram policiais porque eles não se identificaram, disseram apenas que faziam parte da polícia.
De acordo com o assistente administrativo, os homens não estavam fardados e não apresentaram documentos de identificação que comprovassem ser agentes de segurança.
“Dois senhores, que aparentavam ter uns 60 anos, com porte físico forte, gritaram: ‘polícia, encostem’. Só que eles estavam descaracterizados. Estavam de calça jeans e camisa de manga curta”, diz.
O homem disse a Emerson que recebeu uma denúncia de que uma pessoa, parecida com ele, furtou produtos em uma loja do centro de compras.
“Nós recebemos aqui uma denúncia, que tinha um homem da sua cor, com o tipo do seu cabelo e com as roupas parecidas com as suas, que estava praticando roubos em uma loja, no interior do shopping”, conta.
Segundo o denunciante, ele tentou evitar a abordagem ao dizer que tinha as notas fiscais dos produtos e que elas estavam nas sacolas que segurava, mas o homem insistiu em revistá-lo.
“’Não, não, não quero ver nota fiscal não’. Começaram a remexer os sacos, tiraram as caixas, na intenção de olhar se tinha alguma peça”, relembra.
Emerson, então, questionou se a abordagem era correta e disse que se sentia constrangido. “O outro rapaz, que estava com ele e disse ser policial também, ficou na retaguarda observando. Depois fez um sinal de como mandasse deixar pra lá”, detalha o assistente administrativo.
Os homens só liberaram Emerson somente depois de revirar os objetos comprados por ele e ainda concluíram a abordagem com um pedido ao auxiliar administrativo: de que ele não contasse o ocorrido para ninguém.
“Foi aí que ele [um dos homens] deu um tapa no meu ombro, apertou, e disse a seguinte frase: ‘Tudo bem, está liberado, esqueça isso, vamos ficar por aqui’”.
“O tapa não foi com violência, mas foi intimador. A mensagem que ele me passou foi de que eu ficasse quieto, não deixasse a abordagem sair dali, para não ter retaliações”, disse Emerson.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso foi registrado na Delegacia Virtual e a apuração ficará a cargo da 11ª Delegacia Territorial (DT/Tancredo Neves).
Disse também que o assistente administrativo será chamado à unidade para conceder informações e todas as providências serão adotadas para contribuir com a elucidação do caso.
‘Olhar acusador’
Minutos antes de deixar o shopping e ser abordado pelos homens, Emerson Magalhães percebeu que estava sendo observado pelo funcionário de uma loja. O assistente disse que recebeu um “olhar acusador” ao aguardar um amigo que experimentava roupas no provador.
“Eu não liguei, não tenho muito problema quando as pessoas me olham. Só que eu notei que ele se movimentou na intenção de ter uma visão melhor de mim, levantou, foi para trás de onde eu estava sentado”, relembra.
Emerson afirma que após a abordagem dos dois homens, fora do shopping, ele acredita que a denúncia pode ter partido da loja.
“Eu acredito que ele foi pegar algum meio de comunicação para falar com alguém. Eu não vi, mas é uma suposição, por causa do que aconteceu comigo”, opina.
No momento do olhar, ele chegou a questionar o funcionário, mas não foi respondido. O amigo dele, que também presenciou a abordagem, mas não foi revistado, teria pedido para que ele não brigasse na loja.
“Eu levantei e falei: ‘Bom dia, senhor. Algum problema?’ Só que ele fingiu que não escutou. Foi nesse momento que meu amigo saiu do provador e perguntou se tinha acontecido alguma coisa. Eu falei do olhar e ele pediu para que eu deixasse para lá”, conta.
Racismo
“Um absurdo, uma tremenda falta de respeito”, ressalta Emerson após a situação. Ele ainda disse que várias pessoas estavam saindo do shopping e não foram revistadas.
“Foi comigo. Meu amigo, um homem negro, estava comigo e não foi revistado”, alega.
O assistente administrativo afirmou que os homens são contratados por lojas para questionar pessoas suspeitas de furtos no shopping. As abordagens seriam feitas fora do estabelecimento como forma de evitar possíveis repercussões negativas.
“Eles são jagunços contratados por essa loja para abordar as pessoas negras que consideram suspeitas e foi de uma forma sútil. Fora do shopping, para isentar a loja de qualquer retaliação futura”, disse o homem.
Emerson afirma que procurou a Polícia Civil e o Ministério Público para que seja investigado, através de câmeras de segurança e outras formas, se houve relação entre a loja e a abordagem. Além da identificação dos homens.
“Eu percebi esse olhar maldoso lá. Uma pessoa que não estava ligada não ia perecer e não ia entender. Eu acredito que não fui o primeiro, mas eu liguei uma coisa na outra”, conclui.
por g1BA
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