Fechamento da Sala Principal do TCA causa impactos ao setor cultural da Bahia: ‘é onde os grandes artistas querem estar’

Espaço está com atividades suspensas desde o mês de janeiro, depois que um incêndio atingiu o telhado da edificação. A Sala Principal e o Foyer vão passar por obras de requalificação em 2024.
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Considerado o mais importante equipamento cultural da Bahia, o Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador, vai passar por obras de requalificação e modernização na Sala Principal e no Foyer. A reforma está programada para começar em 2024, contudo, o setor já sente os impactos causados pelo fechamento do espaço, após parte da cobertura pegar fogo, em janeiro deste ano.

Depois do incêndio, houve mudança no local de realização e até mesmo cancelamento de eventos e apresentações de artistas como Adriana Calcanhotto, o Balé Folclórico e a Orquestra Sinfônica da Bahia, que faz parte do corpo artístico do TCA.

Antes disso, a pauta da Sala Principal tinha 13 reservas mensais, em média. Não há previsão de retomada das atividades no espaço, que tem capacidade para até 1.554 espectadores e já foi considerado por especialistas um dos mais modernos das Américas.

Telhado do Teatro Castro Alves ficou comprometido após incêndio — Foto: Cau Bezerra

Produtora cultural há duas décadas anos, Marlucia Sie costumava realizar quatro eventos por semestre no equipamento, entre shows e peças teatrais. Por causa do fechamento, ela deixou de promover espetáculos no primeiro semestre de 2023.

“Sem o TCA, vários artistas deixam de vir para Salvador. Ele não pode ficar fechado, é urgente que a reforma comece, porque o palco do TCA é onde os grandes artistas querem estar”, disse.

Marlucia explicou que o TCA tem uma estrutura completa para a realização de peças teatrais e shows, como poltronas, palco, iluminação cênica. Para fazer em outro local, é necessário providenciar tudo isso, o que eleva o custo de produção em cerca de R$ 40 mil, tornando o investimento ainda mais arriscado, segundo ela.

Apesar disso, para não deixar de promover os espetáculos, Marlucia escolheu realocar a agenda para o Centro de Convenções Salvador, localizado na orla da Boca do Rio, no segundo semestre deste ano.

Marlucia Sie é produtora cultural há 20 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Quem também teve o trabalho impactado nos últimos meses foi a produtora cultural Milena Leão, que atua na área há 25 anos e tem buscado soluções para continuar realizando espetáculos. No entanto, a missão é árdua porque, conforme ela, “existem espetáculos que só conseguem ser realizados na Sala Principal, por conta da estrutura física oferecida pelo TCA”.

“É muito difícil montar algo similar à estrutura do TCA, isso tem sido um fator limitador para viabilizar determinadas produções artísticas. Mas, em relação à capacidade de público para determinados eventos em ambientes fechados, cobertos e para público sentado, estamos em negociação avançada para viabilizar um espaço”, comentou, sem revelar, no entanto, detalhes do local.

Milena destacou que o TCA é o único teatro em Salvador que pode abrigar espetáculos de grande porte e que, por isso, “contribui diretamente para a diversidade e a qualidade das opções disponíveis para o público local e turistas, fortalecendo a vida cultural da cidade”.

Milena Leão é produtora cultural e atua na área há 25 anos — Foto: Arquivo Pessoal

O presidente da Associação Baiana das Produtoras de Eventos (ABAPE), Moacyr Villas Boas, lamentou que mais de 50 produções culturais de grande porte tenham deixado de vir para a capital baiana nos primeiros meses de 2023, “porque não há um outro espaço adequado para recebê-las”.

“Essa é uma queixa e uma provocação que a classe vem fazendo há anos para os gestores públicos. O incidente com o TCA só veio a corroborar com o velho ditado popular que diz: ‘Quem tem um não tem nenhum’. É inconcebível que uma cidade do porte de Salvador, com a relevância artística e cultural que lhe é conferida, tenha apenas um grande teatro”, diz.

Villas Boas reivindica que o estado e prefeitura se unam para oferecer, o mais rápido possível, um espaço alternativo, a fim de realocar, ao menos, parte dos eventos que aconteceriam no TCA, e proporcionar outras opções aos moradores e visitantes da capital.

Ele sugere que os poderes públicos façam uma parceria com o Centro de Convenções, subsidiando parte do investimento para que as produtoras “paguem por ele um valor semelhante ao que pagariam no TCA”.

Moacyr Villas Boas, presidente da ABAPE — Foto: Arquivo Pessoal



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Outro pleito dos produtores é a necessidade de se criar mais equipamentos culturais na capital baiana, já que outros que existiam, como o Bahia Café Hall e a Commons, encerraram as atividades. Marlucia citou como exemplo a construção de espaços menores, como o Boca de Brasa, em outros bairros.

“A gente precisa de cultura, educação, segurança pública e saúde. A cultura está dentro do pilar da formação do cidadão, que é tão importante quanto os outros”, opinou ela.

O que diz o TCA
Localizado no Largo do Campo Grande, o Teatro Castro Alves foi inaugurado em março de 1967. O equipamento foi tombado como patrimônio nacional pelo Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2014. Além da Sala Principal e do Foyer, o complexo conta com Sala do Coro, Concha Acústica, Centro Técnico, Vão Livre, Jardim Suspenso, além de um café.

Em nota enviada, a assessoria do TCA ressaltou que a Concha Acústica, a Sala do Coro, funcionam normalmente, bem como o Centro Técnico, salas de ensaio e dos corpos artísticos (Balé Teatro Castro Alves e Orquestra Sinfônica da Bahia), e outros setores.

Teatro Castro Alves, em Salvador — Foto: Teatro Castro Alves

Marlucia, porém, pondera que “as produções do TCA nem sempre cabem na Concha Acústica”, portanto, o espaço não preenche a lacuna deixada pela Sala Principal. “A Concha é para um público mais jovem, não é para um público 40+ que quer ter conforto [enquanto assiste ao espetáculo]”, pontuou.

A assessoria do equipamento garantiu que durante a reforma da Sala Principal, todos os demais espaços do Complexo do TCA se manterão em atividade e reconheceu que “a suspensão de funcionamento de um espaço cultural impacta na sociedade, na cadeia produtiva, na classe artística, nos públicos”.

A nota emitida ao g1 pelo complexo, pontuou, ainda que o fechamento provisório da Sala Principal estava previsto e aconteceria este ano de todo modo, para a reforma completa do novo TCA, independentemente do incêndio.

Obras

Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador — Foto: Caio Lirio

O governo estadual publicou, em 17 de maio, no Diário Oficial, o decreto que institui o Comitê Gestor e o Comitê Executivo de Modernização do TCA.

A reforma da Sala Principal e do Foyer faz parte do conjunto de intervenções no Complexo, que já entregou a nova Concha Acústica em 2016 e a nova Sala do Coro em 2018, e tem como objetivo modernizar os espaços e deixá-los atualizados do ponto de vista técnico, acústico, tecnológico e normativo.

Os Comitês vão coordenar os estudos de elaboração e implementação do projeto de requalificação da Sala Principal, além de promover o encaminhamento operacional dos estudos, acompanhar a evolução das obras e prestar assessoria técnica. Confira abaixo a formação de cada um deles:

O Comitê Gestor será coordenado pelo secretário da Casa Civil, Afonso Florence, e composto pelo secretário de Cultura (Secult-BA), Bruno Monteiro, além da secretária de Desenvolvimento Urbano (Sedur), Jusmari Oliveira e pela Procuradora-Geral do Estado, Bárbara Carmadelli.

Já o Comitê Executivo será formado por um representante da Casa Civil, um da Secretaria de Cultura e um da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), todos servidores indicados pelos titulares das pastas.
Os comitês poderão, ainda, prospectar parcerias com entes governamentais, universidades, centros de pesquisas, empresas privadas, organizações sem fins lucrativos e com a sociedade civil para desenvolvimento de soluções inovadoras que agilizem o projeto e a obra.

Teatro Castro Alves, em Salvador — Foto: Divulgação/Lucas Rosário



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por Redação 2JN – g1ba

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