Em homenagem a Ariano Suassuna, Flican começa nesta quarta

Terceira edição do evento ocorre até o próximo domingo, 28 de agosto
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Cenário de acontecimentos históricos, a cidade de Canudos, no interior da Bahia, sediará a terceira edição da Feira Literária Internacional de Canudos – Flican. O evento, que começa a partir de amanhã e vai até domingo (28 de agosto), contará com palestras, shows musicais e outras expressões culturais com foco no repertório histórico e literário do sertão. O tema desta edição é Revisitar Canudos, Reinventar o Brasil.

Segundo o curador da feira, Luiz Paulo Neiva, a temática tem o intuito de reforçar e celebrar o direito à democracia no país. “A Feira de Canudos celebra o livro, a literatura, a cultura e a arte em todas as suas manifestações. O festival se propõe também a reforçar o ensino básico e contribuir para a preservação da memória e da história do massacre aqui ocorrido. Por isso, em um momento tão emblemático como esse que vivemos, com a ameaça à democracia e ao estado democrático de direito, nada mais oportuno do que revisitar Canudos e reinventar o Brasil”, ressalta Neiva.

Em sua programação, a feira homenageará o escritor paraibano Ariano Suassuna. A escolha por Suassuna ocorreu depois da curadoria ouvir a sugestão de professores e estudantes. De acordo com Luiz, a inspiração para homenagear o dramaturgo se deu também por conta da relação do paraibano com Canudos.

“Todo ano homenageamos uma personalidade que inspira o debate democrático, a força da leitura e a formação de novos leitores e escritores. Suassuna esteve aqui em Canudos antes da sua morte, conviveu com nosso povo, visitou nossos museus, o Parque Estadual de Canudos e gravou um filme-documentário. Aqui, ele reafirmou que quem não conhece Canudos, não conhece o Brasil”, explica Luiz.

Além da homenagem ao autor de O Auto da Compadecida, a programação contará com diferentes expressões artísticas e culturais, que vão desde concertos até apresentações teatrais. “Estamos oferecendo um repertório denso e multidisciplinar de atividades temáticas, na forma de conferências, mesas de conversa, concertos lítero-musicais, lançamentos de livros, contação de histórias e oficinas pedagógicas. Terá também intervenções artísticas, visitas guiadas, apresentações teatrais, exposições iconográficas, filmes e shows”, comenta o curador.

Programação científica

Mas nem só de cultura vive a feira, tem também a Trincheiras, uma programação destinada à área científica que abraça diversos profissionais acadêmicos. “É importante trazermos a diversidade do pensamento cultural, político e histórico. Esse formato inova com a possibilidade de articular o pensamento crítico-intelectual com as manifestações sociais e populares”, define Luiz.

Trincheiras terá intervenções da turma multicampi de doutorado em Crítica Cultural com a participação de 20 doutorandos da Universidade do Estado da Bahia, dos campus de Alagoinhas e Canudos. Serão quatro trincheiras com nomes de personagens históricos, Trincheira Padre Enoque, Trincheira Maria(s) da Guerra, Trincheira José Aras e Trincheira Pajeú.

Para o curador das trincheiras da turma multicampi, Osmar Moreira, as expressões culturais se juntam aos pensamentos científicos dentro de um mesmo contexto e cenário. “Cultura e ciência se misturam e colocam em cena todas as performances. Uma dobra epistemológica para fazermos o sertão virar arte do pensamento e da resistência nesses tempos de terrível obscuridade. Durante todo o evento, os personagens históricos, bem como os ficcionais, podem se tornar conceitos exploratórios de novas problemáticas”, observa Moreira.

Segundo Osmar, a programação destinada à ciência servirá também como um espaço para trabalhos acadêmicos de especialistas. Um projeto de ensino de mestrado e doutorado para Canudos é também pensado pela organização do evento.

“A programação científica é um lugar de observação, com forte rebatimento não apenas nos encontros com pessoas, artistas e intelectuais, mas um agenciamento para futuras teses. Assim, novas feiras virão com mais força e distribuição de riqueza material e simbólica”, conta o curador das trincheiras.

Euclides da Cunha

As mesas de conversa terão também a participação de especialistas que vão abordar a respeito do escritor Euclides da Cunha. Entre os convidados, está o professor da Universidade da Califórnia-Davis, Leopoldo Bernucci, coautor do livro Euclides da Cunha: À Margem da História.

Para Leopoldo, discutir a história de Euclides da Cunha é de muita importância por conta da contribuição do escritor para o país. “Euclides significa para todos nós algo importante, sobretudo para pensar os dias de hoje no Brasil. Ele iniciou sua carreira como cronista, escrevendo para jornais do Rio de Janeiro e São Paulo. A luta dele é pela democracia e sempre foi até os últimos dias. Sua presença na Flican é um marco. Sem ele e Os Sertões não estaríamos falando de Canudos hoje, dando a devida atenção que essa região ímpar merece”, destaca Bernucci.



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A abordagem do autor no evento mostrará a mudança de consciência de Euclides, que passou a ser um crítico de oposição à força militar.
“Pretendo demonstrar a mudança de consciência do escritor. Mesmo sendo entusiasta das forças armadas, ele passa a ser um crítico dessas forças. Tentarei demonstrar também como há casos semelhantes de grandes personagens e pensadores que, no mundo todo, passaram por essas experiências também”, pontua Leopoldo.

Além dos aprendizados sobre Euclides da Cunha, a feira apresentará também importantes projetos na área cultural e de ensino, como explica o curador Luiz Paulo.

“A movimentação cultural ensejará reflexos positivos à economia local e regional, beneficiando com a integração de atrações locais, regionais, estaduais, nacionais e internacionais. Serão obras e atividades que dialogam com a cultura regional, direcionando-se ao público geral”, conclui o curador.

A Flican é organizada pela Universidade do Estado da Bahia, através do Campus Avançado de Canudos e o Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural/Pós-Crítica, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, Fundação Pedro Calmon e Prefeitura Municipal de Canudos. As editoras das universidades estaduais da Bahia e da Universidade Federal da Bahia, também geram apoio ao evento, além do Instituto Popular Memorial de Canudos.



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por Redação 2JN – flican

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