Arquidiocese de Salvador conclui passos do processo de canonização de madre baiana

Tribunal retomou testemunhos e relatos de graças alcançadas pela intercessão da Madre Vitória da Encarnação, que morreu com fama de santidade em 1715, na capital baiana.
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A Igreja Católica Apostólica Romana poderá ter mais uma santa nascida em Salvador: Serva de Deus Vitória da Encarnação. A Fase Arquidiocesana do processo, que foi aberta em novembro de 2019 e retomada em abril deste ano, será concluída e apresentada nesta quarta-feira (25), no Convento do Desterro, local onde viveu e morreu a religiosa com fama de santidade.

A Sessão Solene, que começa às 10h, será presidida pelo Cardeal Dom Sergio da Rocha e pelo postulador da Causa, frei Jociel Gomes, além de membros da Comissão Histórica e de fiéis que acompanham os relatos de graças e milagres alcançados por intercessão da Serva de Deus.

Ao ser concluída esta fase, o Cardeal Dom Sergio da Rocha remeterá para o Dicastério da Causa dos Santos, na Santa Sé, toda a documentação levantada a respeito da Madre Vitória da Encarnação, além dos testemunhos e dos relatos coletados e analisados pelo Tribunal constituído justamente com esta finalidade.

Este Tribunal é formado pelo postulador da Causa da Serva de Deus, frei Jociel Gomes; pelo Delegado Episcopal, cônego Alberto Montealegre; pelo promotor de Justiça, padre Laudimar Oliveira da Silva; pelo notário e pela notária adjunta, Dom Sebastião Rolim e Irmã Violeta, respectivamente.

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Após a Sessão Solene que marcará a Arquidiocese de São Salvador da Bahia, a primeira do Brasil, o Cardeal Dom Sergio da Rocha presidirá a Missa.

Madre Vitória da Encarnação


Arquidiocese de Salvador conclui passos do processo de canonização de madre baiana — Foto: Maiana Belo/G1

De acordo com relatos, Madre Vitória da Encarnação tinha o dom de sonhar com as pessoas necessitadas e, em seguida, enviava ajuda para elas. A religiosa também era procurada quando as Irmãs do convento, que estavam enclausuradas, pediam ajuda para encontrar objetos perdidos.

Alguns estudiosos contam que Madre Vitória da Encarnação foi inspiração para a vida religiosa de Irmã Dulce, primeira santa brasileira, canonizada em 2019.

Filha de Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe, Madre Vitória da Encarnação nasceu em Salvador, em 6 de março de 1661 e foi batizada no mesmo ano na antiga Sé da Bahia. A religiosa teve um irmão e três irmãs. De acordo com Dom Sebastião Monteiro da Vide (1720), a casa da família era um exemplo de lar cristão.

Em 1675, quando a religiosa tinha 14 anos, seu pai desejou enviá-la, juntamente com a irmã mais velha, Maria da Conceição, para um convento nos Açores, em Portugal. No entanto, a menina se recusou e disse que preferia que lhe cortassem a cabeça do que ser enviada para um convento.


Local da Igreja de Santa Clara do Desterro onde fica a imagem de Maria Victória da Encarnação, em Salvador — Foto: Maiana Belo/G1

Primeiro convento feminino do Brasil, o Santa Clara do Desterro da Bahia, foi fundado em 1977 . Nesta época, Vitória estava com 16 anos de idade e havia se tornado avessa à religião. O comportamento preocupou os pais dela.

Neste período, o padre João de Paiva, um jesuíta de muita piedade a quem o povo venerava como santo, vivia em Salvador e tinha fama de ser um profeta.

O pai menina Vitória pediu ajuda ao religioso quando percebeu que a filha havia tomado aversão às coisas sagradas. Ele pediu ao padre que rezasse por ela. O religioso o acalmou e disse que a menina seria, no futuro, uma grande religiosa.

Anos se passaram e Vitória começou a ter sonhos frequentes com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. A Virgem apresentava a ela o Menino e a chamava para a vida consagrada. Em outros sonhos a religiosa via o Divino Menino colher flores no caminho para o convento e chamava ela para lá.

Os sonhos repetiram várias vezes, mas a adolescente não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.

Sonho assustador e consagração a Deus


Imagem de Madre Victória da Encarnação e abaixo do quadro estão os restos mortais dela em igreja na Bahia — Foto: Maiana Belo/G1

Em 1686, Vitória teve um sonho assustador e ela se viu em porões sujos e cheios de iodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Ela também se via estava acompanhada de pessoas impiedosas que caminhavam para a perdição.

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Na parte de cima da embarcação tinham muitos religiosos contentes e que percorriam para a salvação. O Anjo da Guarda de Vitória explicou que os navegantes da parte superior faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto os que estavam no porão, assim como ela, iam para a perdição.Após acordar do sonho, Vitória pensou em sua vida e tomou a decisão de consagrar-se a Deus e passar sua vida fazendo Sua vontade.

Naquele mesmo ano, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo, Vitória foi acolhida no noviciado das monjas Clarissas do Convento do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. A Madre recebeu o nome religioso de Vitória da Encarnação.

Conforme seu desejo, fez profissão Solene em 21 de outubro de 1687, dia em que se celebrava na cidade de Salvador a festa das Onze Mil Virgens.


Nave central da igreja de Santa Clara do Desterro, em Salvador — Foto: Maiana Belo/G1

A religiosa viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro. Ela recebeu dos pobres o apelido de “madre esmoler”.

Quando exercia o cargo de porteira, grande quantidade de pessoas dirigia-se à portaria para pedir-lhe algum auxílio. Ela atendeu a todos quando podia e, mesmo de dentro da clausura, recomendava aos parentes que cuidassem daqueles pobres e doentes que estavam necessitados.

Morte da ‘santa da Bahia’

Após 29 anos de clausura e de total consagração de sua vida à Cristo e ao próximo, Vitória morreu no dia 19 de julho de 1715, acompanhada do padre e das Irmãs que a assistiam.

No momento de sua morte as religiosas disseram que sentiram uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro.

Quando a notícia da morte de Madre Vitória se espalhou, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. A população dizia ter morrido a “santa da Bahia”.

Os religiosos levaram lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”.

Milagres de Madre Vitória da Encarnação


Livro conta história da Madre Victória da Encarnação — Foto: Arquivo pessoal

Diversos milagres foram narrados por devotos logo após a morte de Madre Vitória da Encarnação. O então Arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que a religiosa teve.

Em 1720, apenas cinco anos após a morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou em Roma a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Soror Victória da Encarnação”. O zeloso Arcebispo jesuíta pretendia solicitar a abertura da sua causa de beatificação e chegou a compará-la à Santa Rosa de Lima. Porém, ele morreu em 1722.

Anos mais tarde, com a perseguição do Marquês de Pombal aos Jesuítas e a proibição de muitos dos seus escritos no Brasil, diversos livros se perderam. No entanto, a tradição oral possibilitou a difusão da história de Madre Vitória.

Os restos mortais da religiosa encontram-se na Igreja do Convento de Santa Clara do Desterro, no bairro de Nazaré, em Salvador, e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave da Igreja.

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por Redação 2JN – g1ba

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